Propósito, verdade e singularidade

Propósito, verdade e singularidade

Das crianças e jovens Z até os adultos Millennials, todos estamos buscando uma maneira de deixar um legado de impacto positivo em um mundo cheio de desafios ambientais e sociais.

Sabemos do nosso poder como indivíduos. 

Do poder político de eleger nossos representantes. Pessoas que se alinham com nossos valores e que podem alterar o status quo fortalecendo, reformulando ou criando novas leis.

Do nosso poder de mobilização quando nos juntamos em grupos com os mesmos objetivos, em organizações não governamentais, que solucionam questões que os políticos que elegemos consideram pouco importantes ou que simplesmente não conseguem resolver.

E tão importante quanto nosso poder como cidadãos, sabemos cada vez mais do nosso poder como consumidores. 

 

Ao escolher as marcas que entram em nossas casas e em nossas vidas, estamos escolhendo muito mais do que somente um tipo ou outro de produto. Ou mesmo o que elas, como marcas, nos oferecem como serviços. Estamos escolhendo com que “imagem” vamos nos associar e com que valores vamos nos “relacionar”. E qual tipo de impacto esse relacionamento vai causar às outras pessoas e ao planeta.

O mundo está mudando rápido e até mesmo o poder concreto de “consumir” está dando lugar ao poderoso conceito intagível de “influenciar”.

 

O estudo Edelman Earned Brand revela que quase dois terços dos consumidores em todo o mundo já definem o que compram por suas crenças. Esses escolhem, alternam, evitam ou boicotam marcas com base em suas posições sobre questões com as quais se preocupam. Para navegar pelas dinâmicas políticas e culturais voláteis de hoje, é essencial usar seus valores como uma ponto de conexão com consumidores cada vez mais preocupados com sérios desafios sociais e ambientais.

A razão de existir uma marca, nesse contexto, impacta fortemente na forma que ela é vista no mercado, se transformando na força motriz por trás do seu sucesso ou motivo do seu fracasso.

É por isso que hoje, com as duas mais conscientes e conectadas gerações ganhando voz e poder de consumo e influência, “propósito de marca” talvez seja um dos termos mais ouvidos pelos corredores e nas salas de reuniões das empresas que querem sobreviver.

Pelo dicionário, propósito é a convicta intenção de fazer algo. Um objetivo, na maioria das vezes nobre, que se busca alcançar. Simon Sinek, autor inglês do livro “Start with Why” (comece com porque) ressalta que as pessoas não compram “o que” as marcas fazem, mas “o porquê” elas fazem. 

O propósito da Apple sempre foi o de estimular as pessoas a pensarem diferente, dando ferramentas para que elas desafiem o status quo. Produzir computadores e periféricos fáceis de usar e com um design incomparável é a forma com que ela provoca e engaja seus consumidores, viabilizando sua razão de ser.

O propósito de uma marca é essencialmente o motivo dela existir, além de gerar riquezas para a comunidade – pagando impostos para seus colaboradores – pagando salários para seus fundadores e acionistas – entregando lucros. Ter clareza de seu propósito pode ajudá-la a construir um relacionamento mais emocional com seus consumidores, aumentando a lealdade nessa relação.

Ao declarar o propósito de sua marca, a empresa não está apenas comunicando de forma oportuna suas promessas, mas se comprometendo a modificar tudo o que for necessário, dentro de seus limites como instituição, para tranformar a realidade em que estão inseridas.

Não podemos esquecer, porém, que vivemos em um mundo no qual as expectativas estão cada vez maiores e a confiança está cada vez mais em baixa. É nesse cenário de descrença que o termo “walk-the-talk” – fazer de maneira coerente com que se fala – parece fazer ainda mais sentido.

Marcas que baseiam seus propósitos em promessas vazias e cujo comportamento não reflete seus valores, correm o risco de perderem credibilidade. O melhor conselho em tempos de desconfiança, é ser totalmente transparente e intimamente conectado com suas verdades. Por isso, propósitos não podem ser um exercício criativo dos profissionais de marketing ou de branding, baseados em leituras de oportunidades de mercado. Mas sim revelados numa investigação profunda e responsável dos valores e intenções que estavam no nascimento de uma marca, nos seus talentos mais originais, naquilo que a faz mais realizada.

Um propósito relevante precisa estar indissoluvelmente vinculado à sua singularidade e extremamente ligado aos anceios contemporâneos. O lugar de melhor intersecção entre a paixão da marca, o que ela é muito boa em fazer, o que que as pessoas querem e o mundo precisa.

Se chegarmos bem de perto, parece que nada disso é muito novo, já que desde muito antes do termo “Propósito de Marca” ganhar destaque, as marcas sempre foram criadas POR seres humanos , PARA seres humanos – com base em suas necessidades, aspirações e desejos. O problema é que vivemos desafios mais urgentes e interdependentes.

Chegou o momento em que as empresas estão sendo cobradas a ajudarem a resolver esses desafios.

As marcas que desenharem esse presente e futuro tendo no centro seus propósitos genuínos, inspiradores e mobilizadores, permanecerão relevantes e conquistarão a lealdade de seus consumidores, num caminho em que todos prosperem.